Mesmo diante de um cenário desafiador, acredito que este também é um momento de oportunidades. O mercado imobiliário, como tantos outros segmentos da economia, está aprendendo a navegar num ambiente em que o crédito não é abundante, e o custo do capital voltou a pesar. A manutenção da Selic em 15%, a mais alta desde 2006, obriga todos os agentes do setor a repensarem sua estrutura de operação, financiamento e estratégia.
Mesmo sem novos aumentos na taxa, o cenário não aponta para quedas no curto prazo. Pelo contrário, os sinais indicam uma estabilidade prolongada em patamar elevado, cujos efeitos mais profundos devem ser sentidos apenas no médio e longo prazo, exigindo preparo desde já. Em um ambiente de juros elevados, o capital fica mais seletivo. E isso significa que os critérios de avaliação passam a considerar, com ainda mais peso, a governança, a transparência e a qualidade dos dados disponíveis sobre cada projeto.
Nesse cenário, vale destacar a transformação no perfil das fontes de funding disponíveis. Historicamente, os financiamentos com recursos da poupança, principal base do SBPE, ofereciam custo mais baixo, mas hoje enfrentam limitações importantes. De 2020 a 2024, os resgates líquidos da poupança somaram mais de R$ 240 bilhões, reduzindo a oferta de crédito para incorporadoras e concentrando o capital remanescente em financiamentos habitacionais para pessoa física. Essa escassez força o mercado a buscar alternativas como o mercado de capitais, que ampliou sua participação de 17% para 36% no mesmo período. O avanço de instrumentos como CRIs e a expansão dos fundos de investimento imobiliário indicam um novo ciclo de financiamento, mais exigente em governança, mas também mais dinâmico e acessível para quem está bem preparado.
Cada vez mais, vemos desenvolvedores se estruturando para acessar alternativas ao crédito tradicional. O tempo em que era possível captar recursos apenas com um bom terreno e uma boa ideia ficou para trás. Hoje, é imprescindível contar com processos sólidos, clareza na gestão e inteligência para tomar decisões. Fundos de investimento, investidores institucionais e plataformas de crédito estruturado buscam segurança, rastreabilidade e previsibilidade. Quem já se adaptou a essa nova lógica está um passo à frente.
Essa transição exige também uma postura diferente frente à gestão dos projetos. Com margens pressionadas, insumos mais caros e maior dificuldade de repasse ao consumidor, a rentabilidade depende menos da intuição e mais da capacidade analítica. A lógica é simples: quem tem mais dados e mais controle, erra menos. E quem erra menos, performa melhor.
Por isso, acredito que o segundo semestre de 2025 será decisivo. Se por um lado o mercado deve encontrar estabilidade nas taxas, por outro, a diferença será feita por quem conseguir se posicionar com mais consistência. Profissionalizar a gestão, conectar tecnologia às decisões e manter disciplina financeira deixarão de ser diferenciais e passarão a ser requisitos mínimos.
O mercado imobiliário vive uma mudança de paradigma: estamos deixando para trás o modelo oportunista e nos aproximando de uma era em que a estruturação e a eficiência serão os verdadeiros vetores de crescimento.