Selic em 15%: o que esse patamar diz sobre o momento da economia e como ele afeta o mercado imobiliário

A Selic segue em patamar elevado, mas as projeções já apontam para um ciclo gradual de queda. Entenda esse cenário.
Tempo de leitura: 6 minutos

A manutenção da taxa Selic em 15% ao ano, confirmada pelo Banco Central do Brasil, estabelece o ritmo da política monetária para os próximos meses e cria um pano de fundo relevante para decisões de crédito, investimento e desenvolvimento imobiliário. Mais do que um dado pontual, a decisão sinaliza cautela e reforça a necessidade de observar com atenção como o capital deve se comportar ao longo do próximo ano.

As projeções para a Selic indicam que o mercado já começa a olhar para um possível ciclo de redução, ainda que gradual e condicionado à evolução da inflação e do cenário econômico. Entender esses movimentos é essencial para quem atua no mercado imobiliário e precisa tomar decisões hoje, pensando no impacto direto no médio e longo prazo.

O que o mercado projeta para a Selic no próximo ano?

As expectativas de mercado são consolidadas semanalmente no Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central do Brasil, que reúne projeções de bancos, gestoras e casas de análise sobre os principais indicadores econômicos.

De acordo com esse levantamento, o cenário atual aponta dois movimentos centrais:

Manutenção da Selic em patamar elevado no curto prazo

O mercado projeta que a Selic deve permanecer em níveis elevados no curto prazo enquanto o Banco Central acompanha a evolução da inflação corrente e, principalmente, das expectativas futuras. Isso acontece porque a autoridade monetária busca garantir que a desaceleração da inflação seja consistente e duradoura, evitando cortes prematuros que possam reaquecer preços ou desancorar expectativas.

Em termos simples, o Banco Central prefere errar pelo excesso de cautela do que reduzir os juros antes de ter segurança de que a inflação está sob controle.
Fonte: Banco Central do Brasil – Relatório Focus

Possibilidade de início de um processo gradual de queda ao longo do próximo ano

Embora a Selic permaneça elevada no momento, as projeções indicam uma trajetória de acomodação dos juros ao longo dos próximos anos. O próprio Relatório Focus aponta expectativa de redução gradual da taxa básica, condicionada à manutenção da inflação sob controle e à consolidação das expectativas inflacionárias.

Esse movimento não sinaliza uma virada imediata, mas cria um ambiente de otimismo cauteloso para o setor de crédito. A perspectiva de juros mais baixos no horizonte contribui para destravar planejamento, estimular decisões de investimento mais estruturadas e melhorar a percepção de risco no médio prazo.

Para o mercado imobiliário, essa combinação de juros ainda altos no presente e expectativa de queda no futuro reforça uma lógica importante: projetos bem preparados hoje tendem a capturar melhores condições de crédito e financiamento quando o ciclo monetário se tornar mais favorável.

Instituições como ANBIMAXP Research e BTG Pactual convergem para essa leitura, reforçando que o consenso não está na queda da Selic, mas quando e em que ritmo.

Por que o Banco Central mantém a Selic em 15%?

A decisão de manter os juros elevados não está ligada a um único fator isolado. O Banco Central utiliza a Selic como principal instrumento para controlar a inflação e, neste momento, avalia que ainda é necessário manter o crédito mais caro para evitar a retomada de pressões inflacionárias.

Quando os juros permanecem altos, o consumo e o investimento tendem a desacelerar, reduzindo a demanda por bens e serviços. Esse processo ajuda a conter aumentos de preços, mas ocorre de forma gradual, ao longo de vários meses. Por isso, a política monetária atua com cautela e antecedência.

As atas do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçam que a autoridade monetária busca consolidar a convergência da inflação para a meta, antes de iniciar um ciclo de corte, evitando riscos de reversão do cenário.

Como esse cenário se traduz no mercado imobiliário?

No mercado imobiliário, a Selic em 15% não representa paralisação, mas uma mudança clara nos critérios de decisão. O capital se torna mais seletivo e menos tolerante a improvisações.

Projetos passam a ser avaliados com maior foco em execução, coerência financeira e previsibilidade de resultados. O risco deixa de estar concentrado apenas no cenário macroeconômico e passa a ser analisado dentro de cada empreendimento.

Para o desenvolvedor imobiliário, isso significa a necessidade de decisões mais estratégicas, indo além do timing de lançamento e olhando para a capacidade de atravessar o ciclo com controle e margem.

Para o intermediador, o cenário exige leitura mais refinada do perfil dos projetos, já que a seletividade aumenta e operações mal estruturadas tendem a travar com mais frequência.

Para o mercado de capitais, a Selic elevada reforça a importância da qualidade do ativo e da consistência das informações, tornando a análise de risco mais técnica e criteriosa.

Crédito mais previsível, porém mais seletivo

Um ambiente de juros altos tende a trazer maior previsibilidade ao longo do tempo, especialmente no crédito habitacional ao consumidor final. No entanto, previsibilidade não significa facilidade.

Para a produção imobiliária, o capital passa a exigir maior clareza sobre estrutura financeira, aderência entre cronograma físico e financeiro, capacidade de execução e consistência dos dados apresentados. O crédito continua disponível, mas direcionado a projetos capazes de demonstrar controle e menor risco relativo.

O papel do mercado de capitais em um ciclo de Selic elevada

Com o crédito bancário mais restrito e direcionado, o mercado de capitais segue ocupando um papel relevante no financiamento da produção imobiliária. Instrumentos como CRIs, FIDCs e outras estruturas lastreadas em ativos reais ganham espaço por sua capacidade de combinar retorno, previsibilidade e lastro.

Dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram a expansão dessas estruturas justamente em ambientes de maior seletividade do crédito tradicional.

Esse modelo se sustenta porque ativos imobiliários oferecem lastro real, fluxos de recebíveis podem ser estruturados de forma previsível e investidores buscam retorno ajustado ao risco em cenários de juros elevados.

O que esse ciclo constrói no longo prazo?

Mais do que atravessar um período de juros altos, esse ciclo tende a deixar efeitos duradouros no mercado imobiliário. Projetos que conseguem se manter organizados e financeiramente equilibrados em um ambiente mais restritivo tendem a sair fortalecidos quando o cenário se torna mais favorável.

No longo prazo, isso se traduz em maior resiliência financeira, histórico consistente de execução, melhor posicionamento para captar recursos e maior confiança por parte de investidores e parceiros.

Em outras palavras, a Selic elevada no presente, combinada com a expectativa de queda no futuro, favorece quem usa esse período para se preparar.

Conclusão

As projeções para a Selic indicam um cenário de transição gradual. Os juros permanecem elevados no curto prazo, mas há expectativa de acomodação ao longo dos próximos anos, condicionada à manutenção da inflação sob controle.

Para o mercado imobiliário, esse contexto reforça a importância de decisões estruturadas, visão de médio e longo prazo e leitura estratégica do cenário. Mais do que esperar a queda dos juros, trata-se de entender como atravessar esse período com eficiência e se posicionar melhor para o próximo ciclo.

Em um mercado cada vez mais criterioso, informação, clareza e capacidade de execução seguem sendo os principais diferenciais.

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